Por Samir Saif Tomaz
Muito se pode falar da imagem de um bom governante
Um presidente justo. Um rei ou regente “magnânimo”. Um imperador piedoso. E o que o segundo episódio de A Casa dos Dragões nos mostra é justamente isso. Uma guerra de narrativas entre verdes e negros, onde a propaganda difamatória de Rhaenyra a ilustra como uma mulher cruel, por consequência da morte do jovem Jaehaerys, através da ação vil do príncipe Daemon Targaryen, que nesse episódio consente através do silencio. Os primeiros segundos, dirigido por Klaire Kilner (também diretora de We Light the Way e The Green Council na primeira temporada) mostram servos da corte correndo em várias direções e um Aegon II insano e impecavelmente interpretado por Tom Glynn-Carney (Dunkirk), destruindo a tão amada maquete de Porto Real tão amada por Viserys I e ao que aparenta, somente por ele.
Aegon II oficialmente declara guerra e dá o ponta pé inicial na guerra familiar. Cego de ódio, demite sor Otto, vê mais importância em uma espada que uma caneta, o que não está de todo errado, vamos concordar, e ignora o fato da guarda real estar dividida entre lá e cá, e parece ser incapaz de proteger a realeza. Um exemplo disso é seu comandante e nova Mão do Rei, Sor Criston Cole, preocupado com a pureza dos mantos de seus comandados sem enxergar o quanto seu próprio está impregnado de pecado e luxuria.
Em Fogo e Sangue ele prova o quanto um homem de guerra pode ser mais eficiente que um homem de diplomacia já executando os lordes das Casas simpatizantes a causa de Rhaenyra e pendurando suas cabeças numa estaca. Na série, o roteiro optou por executar todo um grupo de trabalhadores responsáveis por caçar ratos, não importando o quão inocentes sua maioria poderia ser. A pessoa horrível que sor Criston Cole aparenta ser ainda fará muitas incursões de sucesso nessa guerra familiar entre verdes e pretos.
Cortamos para Healena Targaryen, rainha, esposa e mãe, imagem clássica do papel da mulher monárquica numa dinastia patriarcal onde sua opinião pouco importa, e sua dor torna-se moeda de troca numa discussão do grande conselho verde para que seu luto se transforme em propaganda de ataque à Rhaenyra, pasmem a toda a situação que a envolve, sem seu consentimento e causada por Daemon, seu consorte e maior inimigo. Podemos afirmar que Daemon não tinha a intenção de prejudicar Rhaenyra, que foi tomado pelo puro suco do desejo de vingança, mas na opinião humilde desse colunista, Daemon tem impulsos semelhantes ao de Criston Cole, o de estar em meio à guerra e a conquista. Uma coroa na cabeça de ambos teria o mesmo peso que a coroa na cabeça de um Conan ou até mesmo um Robert Baratheon, mais confortáveis e íntimos ao campo de batalha, motivo pelo qual faz de Daemon mais fiel aos seus ímpetos de guerra que a mulher que compartilha sua cama e um reino dividido.
Confesso que o núcleo dos negros não parece dar a atenção devida aos Velaryons, os bastardos legitimados Adam e Alyn, outrora de Hull (ou de Casco, alcunha dada aos bastardos Velaryons) pouco aparecem e as mulheres Velaryon pelo visto só darão sinais quando montadas em seus devidos dragões, sejam Meleys, Bailalua ou Vaghar.
Nesse entrevero podemos nos lembrar de uma das melhores demissões até hoje vistas na história da televisão seguida de uma das contratações mais indigestas que um rei poderia optar. Otto Hightower perde a linha diante de um rei iconsequente, instável e desesperado pela perda de seu herdeiro, talvez tenha-se a impressão que ele perdeu tudo ali, mas é no retorno a Vila Velha (Oldtown) que Otto partirá de encontro a sua Casa, tropas e outro herdeiro dos verdes, Daeron Targaryen, filho caçula de Alicent e Viserys. Um forte pretendente ao trono em meio a essa disputa pela coroa.
E aqui voltamos a Sor Criston Cole, nova Mão do Rei, julgando a pureza do manto de Arrick Cargil, colocando-o contra a parede, cobrando-o por suas obrigações, enquanto zelava mais pela intimidade de Alicent que a integridade da família real ao mesmo temo que lhe promete a glória, o forçando a dar fim a rainha de Pedra do Dragão naquilo que mais pareceu um plano infalível do Cebolinha que um plano engendrado maquiavelicamente por alguém sem escrúpulos. E colocar Arrick contra Errick Cargill numa sequência de erros narrativos, onde soldados rendem seus colegas sem muito critério, distanciou o público da dramaticidade, violência e dor que o encontro dos gêmeos ausariam na tela dentro desse desfecho.
Talvez, apenas talvez, esse episódio fosse mais eficiente se escrito por Cogumelo, apesar de bem dirigido. A direção não pode pagar pelos erros cometidos nesse segundo episódio regular que foi A Casa dos Dragões.
Dracarys Baby!