Quinzenalmente, estamos aqui no Masmorra Cine, falando de filmes não-estadunidenses de uma forma que cabe no seu tempo e, de quebra, apresentando dicas culturais oriundas dos países das obras destacadas. Venha conosco. Hoje, iremos à Espanha.
Carvalho de Mendonça – Podcast ” O Livro da Minha Vida” – Blog Veia Dramática
MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS (Espanha, 1988)
Mujeres al borde de un ataque de nervios – Comédia dramática – 1h28min – Pedro Almodóvar
A obra em 14 segundos
Pepa é abandonada por Iván, de quem é amante, e descobre estar grávida. Lucía, esposa de Iván, sofre de problemas psiquiátricos e percebe que também está sendo deixada por ele. Em meio ao caos, Candela, amiga de Pepa, surge pedindo ajuda, pois se envolveu com um terrorista e teme ser presa.
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A obra em 52 segundos
Primeiro grande sucesso da carreira de Pedro Almodóvar, Mulheres à beira de um ataque de nervos catapultou a imagem do cineasta espanhol para o resto do mundo e lhe rendeu a sua primeira indicação ao Oscar. Abusando de todos os elementos que caracterizam o seu estilo, Almodóvar entrelaça diversas personagens femininas em uma trama surreal de farsa e desespero, com explosão de cores e caricaturas. Pepa (Carmen Maura) é abandonada por Iván (Fernando Guillén), de quem é amante, e descobre estar grávida. Lucía (Julieta Serrano), esposa de Iván, sofre de problemas psiquiátricos e acredita que ele está prestes a deixá-la por Pepa. Candela (María Barranco), amiga de Pepa, aparece pedindo ajuda, pois se envolveu com um terrorista e teme ser presa. Em meio ao caos, Carlos (Antonio Banderas), filho de Iván, e sua noiva Marisa (Rossy de Palma), surgem interessados em alugar o apartamento de Pepa. Na verdade, Iván planeja fugir com uma terceira mulher.
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A obra em 3 minutos e 20 segundos
Pedro Almodóvar é um cineasta inegavelmente marcante, suas obras jamais passam despercebidas, e seu estilo é um dos mais característicos dentre os grandes diretores de sua geração. O espanhol transita de forma hábil entre a tragédia e a comédia, entre o drama e o pastelão, entre o absurdo e o exagero. Abusando de cores quentes, figurinos exóticos, personagens excêntricos e perucas, Almodóvar consegue instigar sentimentos e despertar no público reações inesperadas: enquanto uns choram, outros gargalham. Enquanto uns se divertem, outros se desesperam.
Como gosto pessoal, sou mais afeito aos dramas do cineasta, aqueles filmes que só te fazem rir por aflição. Porém, a minha dupla de obras preferidas dele contém uma comédia farsesca rasgada: o trabalho que catapultou a imagem do cineasta espanhol para o resto do mundo e lhe rendeu a sua primeira indicação ao Oscar, como melhor filme estrangeiro: Mulheres à beira de um ataque de nervos. No longa, Almodóvar entrelaça diversas personagens femininas, no limite de suas emoções, em uma trama surreal, repleta de coincidências forçadas e diálogos hilários, que funcionam muito bem.
Pepa (Carmen Maura) é abandonada por Iván (Fernando Guillén), de quem é amante, e descobre estar grávida. Lucía (Julieta Serrano), esposa de Iván, sofre de problemas psiquiátricos e acredita que ele está prestes a deixá-la por Pepa. Candela (María Barranco), amiga de Pepa, aparece pedindo ajuda, pois se envolveu com um terrorista e teme ser presa. Em meio ao caos, Carlos (Antonio Banderas), filho de Iván, e sua noiva Marisa (Rossy de Palma), surgem interessados em alugar o apartamento de Pepa. Na verdade, o plano de Iván é fugir com uma terceira mulher.
Quase nenhum outro cineasta homem trata tão bem, e com tanto respeito, as dores femininas como Pedro Almodóvar. O olhar admirado que ele impõe sobre às mulheres em suas películas revela um pouco de sua visão nostálgica daquelas que habitaram a sua infância e a sua juventude. Suas personagens são fortes e fracas, poderosas e carentes, independentes e sentimentais. Em que pese toda a extravagância, suas personagens são reais, complexas e vivas, diferentemente da grande maioria criada no cinema atualmente (no passado, nem se fale).
No elenco, Almodóvar aposta em figuras recorrentes de sua obra, atores que se encaixam em sua estética e compreendem perfeitamente o tom que sua criação deve ter. Propositalmente, aqui Antonio Banderas é colocado em segundo plano, com um papel menor, bem diferente de sua veia dramática já usada pelo diretor em Matador e A Lei do Desejo, e que seria ainda mais explorada, posteriormente, em Ata-me, A pele que habito e o recente Dor e Glória. O ponto alto de performance do filme é a estupenda Carmen Maura, que além de dominar todas as cenas, parece ter nascido com a alma de Pepa. Inesquecível, Mulheres à beira de um ataque de nervos está ao lado de Tudo sobre minha mãe no topo da minha hierarquia (injusta) almodovariana.
Pedro Almodóvar é um daqueles caras que fico aguardando ansioso por lançamentos, por novos clássicos libertários e ferventes, verborrágicos e incômodos, pois é um dos poucos artistas das antigas que eu acredito que a obra-prima ainda está por vir. A maturidade e o passar do tempo fazem muito bem a ele. E a nós, por consequência.
Aproveito para indicar o maravilhoso episódio do Masmorracast sobre a carreira do diretor espanhol:
https://masmorracine.com.br/2010/02/08/6107/
Ponto forte: O filme é um exemplar magnífico do respeito, da sensibilidade e do carinho do diretor ao tratar o universo feminino.
Ponto fraco: Personagens caricaturescos e situações que beiram ao pastelão enfraquecem um pouco o drama da obra, tão marcante em outros trabalhos do cineasta.
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Ficha Técnica
Direção de Pedro Almodóvar
Roteiro de Pedro Almodóvar
Produção de Pedro Almodóvar e Agustín Almodóvar
Elenco principal com Carmen Maura, Julieta Serrano, María Barranco, Rossy de Palma, Antonio Banderas, Fernando Guillén e Kiti Mánver
Fotografia de José Luís Alcaine
Edição de José Salcedo
Cenografia de Félix Murcia
Figurino de José Maria de Cossío
Trilha Sonora de Bernardo Bonezzi
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Dica cultural, diretamente da Espanha
A dica cultural de hoje é o longa Viridiana, filme espanhol de 1961, do mestre surrealista Luís Buñuel, vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Viridiana é uma noviça que, antes de fazer seus votos definitivos, precisa deixar o convento e passar um período na casa do tio, seu único parente vivo, para ter a certeza de que é aquilo que quer da vida. Nessa viagem, porém, ela acaba tendo contato com a verdadeira face da humanidade. Ela é uma pessoa pura e inocente que é exposta à baixeza dos homens. Polêmico e extremamente crítico, o filme foi condenado pelo Vaticano por blasfêmia e indecência, além de ter sido banido da Espanha pelo ditador Francisco Franco. Protagonizado pela atriz mexicana Silvia Pinal, a obra ainda conta em seu elenco com Fernando Rey, Francisco Rabal, Teresa Rabal, Margarita Lozano, José Calvo e José Manuel Martín. Grande clássico do cinema mundial, que precisa ser visto e revisto sempre que possível.
Por hoje, é isso, companheiras e companheiros.
Até mais.
Carvalho de Mendonça